Após criar o próprio empreendimento, venezuelana supera dificuldades para gerar renda

Morando há quatro anos no Brasil, Vanessa, com incentivo da mãe, criou em sua própria casa, em Roraima, um espaço para dar aulas de reforço para crianças e adolescentes. As dificuldades em conseguir emprego na sua área de atuação foram o motivo para criar um empreendimento no ramo. “Na Venezuela, eu era professora universitária e também dava aulas para alunos do ensino médio. Eu tinha um bom salário e conseguia viver bem com minha família, porém, com as dificuldades que o país enfrentava e com meu filho ficando doente, eu decidi largar tudo e vir morar no Brasil”, relembra.


De acordo com pesquisa divulgada pela ONU Mulheres, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), no âmbito do programa conjunto Moverse, com apoio do Governo de Luxemburgo, um dado importante chama a atenção para os reflexos do ensino superior na empregabilidade de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas no Brasil. Entre a população brasileira em geral, 16,8% possuem ensino superior completo; entre pessoas venezuelanas interiorizadas, a parcela de quem possui essa escolaridade é similar, de 15%. Entre as mulheres venezuelanas interiorizadas, 17,5% possuem ensino superior completo, média acima da encontrada entre homens interiorizados, de 12,7%. Entretanto, as mulheres apresentam maior dificuldade para ingressarem no mercado formal de trabalho brasileiro.


A falta de oportunidades para integração socioeconômica das mulheres, e mais ainda as que são mães, fizeram com que Vanessa ajudasse também outras refugiadas e migrantes. “Aqui eu ajudo muitas pessoas dando aulas e às vezes nem recebo por isso, faço mesmo por amor. Muitas mulheres venezuelanas têm filhos e querem trabalhar, então ajudo ficando com a criança enquanto elas trabalham. Tenho muito pouco e mesmo assim sou grata pelas oportunidades”, conta. As mulheres refugiadas e migrantes venezuelanas representam o maior número nas taxas de desemprego: enquanto a taxa geral é de 11%, no recorte de gênero, ela é de 17,7% entre as mulheres contra apenas 6,4% entre os homens.


Mesmo tendo estudo e profissão na Venezuela, Vanessa sentiu na pele as dificuldades de ingressar no mercado de trabalho no Brasil. “Tentei outros tipos de trabalho que não eram da minha área, deixei meu currículo em vários lugares e mesmo assim não conseguia nenhum emprego”, disse Vanessa. Dados da pesquisa também retratam que, apesar de a maioria da população venezuelana interiorizada ocupada encontrar-se empregada no setor privado (71,7%), o grau de informalidade laboral desta população é ainda relativamente alto (32,4%) e apresenta diferenças relevantes entre os gêneros: a informalidade laboral das mulheres (37,3%) é 1,2 vezes maior que a dos homens (29,4%).


Com base nessas informações, o Moverse tem atuado junto a organizações e empresas para que mais mulheres refugiadas e migrantes consigam ingressar no mercado formal de trabalho, garantindo condições de integração social e econômica em diferentes regiões do Brasil e alcançando autonomia e melhoria na qualidade de vida. Vanessa conseguiu fazer cursos oferecidos pelas agências que implementam o programa Moverse, o que ajudou na hora de começar a criar a sala de reforço escolar. “Fiz o curso de técnica de promotora de vendas. Recebi muitas dicas importantes sobre organização, marketing e isso me incentivou a abrir o meu próprio negócio. Todo o conhecimento que a gente aprende é pra vida”, comemora.


Assim como muitas mulheres refugiadas e migrantes que conseguem abrir seu próprio negócio em outro país, Vanessa almeja alcançar o sucesso profissional. “Como sonho futuro, eu desejo ter a minha própria escolinha, pois a educação é a base de tudo. Eu nasci para ser educadora, eu gosto disso, isso enche o meu coração”.


Para apoiar a visibilidade e o fomento dos negócios liderados por pessoas refugiadas no país, o ACNUR e o Pacto Global da ONU no Brasil mantêm a plataforma Refugiados Empreendedores. Além da oportunidade de divulgar produtos e serviços de empreendedores refugiados, a ferramenta oferece uma série de recursos para quem já empreende ou quer empreender, como informações sobre crédito e microcrédito, cursos sobre empreendedorismo e estratégias de comunicação de negócios.


Sobre o Moverse 

Iniciado em setembro de 2021, o programa conjunto MOVERSE – Empoderamento Econômico de Mulheres Refugiadas e Migrantes no Brasil é implementado por ONU Mulheres, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), com o apoio do Governo de Luxemburgo.  O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes.


Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. E a terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero.

Foto: Divulgação/ONU

Fonte: Com informações da Assessoria de Imprensa