Cida Aripória é cantora, compositora e rapper amazonense originária do povo Kokama. Ela iniciou sua carreira na cultura hip-hop, mais precisamente no rap, no final do ano de 2002, no bairro do mutirão, por isso deu o título “Originária” ao seu primeiro EP, enquanto comemora, ao mesmo tempo, 20 anos de carreira.
Cida é uma das primeiras mulheres a cantar rap no estado do Amazonas. Já passou por diversos grupos construindo sua caminhada do rap feminino na cidade de Manaus. Ela também é a primeira mulher indígena do Amazonas a lançar um EP de rap misturando o ancestral, dos povos originários ao urbano periférico.
Com uma carreira consolidada no cenário cultural local, nacional e até internacional, feita através das parcerias musicais, ela tem produzido e exaltado o nome do Amazonas em lugares nunca antes ocupados pelo rap amazonense.
“Dei ao meu EP um nome que representasse toda a minha caminhada no hip-hop/rap, e pensei em algo que tivesse a ver com a minha história ancestral de raízes indígenas. Certo dia eu sonhei com esse nome. No sonho, alguém me chamava assim e tempos depois vi que esse nome diz tudo. Quem não conhece minhas raízes não tem a visão ampliada do que acontece ao meu redor”, diz a artista.
De acordo com a rapper, o EP se divide em 4 blocos com 5 músicas que faz um total de 20 músicas ao todo, que é equivalente ao seu tempo de carreira, misturando boombap, trap e sonoridades da floresta e dos povos originários.
Ainda de acordo com ela, a primeira parte do EP “Originária”, traz músicas que a lançaram como MC. Composições que ela já tinha, mas que ainda não haviam sido produzidas com qualidade e nem com os beats originais, trazendo também a representação da Old School.
Ela afirma ainda que existem outras composições a serem lançadas, mas escolheu de primeira as composições “Amazônia de Periferia”, “Março de Lutas”, “Manaus das Minas” porque representa o início de tudo, com exceção da música “4 Elementas” que é uma releitura de uma música antiga do primeiro grupo de rap da qual ela integrava, a AMK, onde homenageia, segundo ela, um irmão de rap preto, sócio já falecido.
“Um dos destaques do EP é a ‘intro ini tsawa’, que significa “nossa alma” que é a abertura dos caminhos e retrata a música de meus ancestrais Kokama, cantada pela liderança indígena, Jade Tsetsu Kokama”, acrescenta Cida.
Além da música, Cida Aripória atua na produção cultural de eventos e projetos femininos ligados a cultura hip-hop, pois ela vem de uma longa experiência que iniciou ainda nos anos 2000 quando não tinha eventos de hip-hop que desse visibilidade às mulheres.
“Fundamos o primeiro coletivo de mulheres no hip-hop do estado do Amazonas, para que as manas tivessem onde se apresentar, expor seus trabalhos de diversas linguagens. Realizamos o primeiro Encontro de Graffiti da Região Norte, em 2008, e o primeiro Campeonato de Skate Feminino de Manaus, em 2009, e assim como o primeiro grupo de rap de mulheres da história do estado do Amazonas, abrimos e oportunizamos para o crescimento e visibilidade das mulheres no cenário, e eu tenho muito orgulho de ter construído isso ao longo do tempo ao lado de várias manas”, afirma Cida.
O trabalho de Cida Aripóia é enraizado na cultura hip-hop como também nas sonoridades da região Norte, sobretudo na ancestralidade indígena, que reflete muito no seu cotidiano, cheia de simbolismos, que remetem à luta das mulheres originárias, da representatividade feminina na arte urbana, que de acordo com ela ainda é predominantemente masculina, mas que ao longo do tempo teve o reconhecimento da presença feminina fruto de muita insistência.
Cida mais uma vez marca seu nome na história da música e da arte amazonense com o lançamento do seu EP Originária, disponível a partir de 30 de novembro, no seu canal do YouTube Cida Aripória Oficial.
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