As empenas, fachadas laterais de prédios, dos edifícios Rio Madeira e Cidade de Manaus, ambos localizados no bairro Centro, zona sul da capital, se transformam em ‘telas gigantes’ para receber as criações dos artistas visuais Denilson Baniwa e Olinda Silvano. A iniciativa faz parte do Circuito Urbano de Arte (Cura) que, pela primeira vez, chega ao Norte do país e recebe o nome de Cura Amazônia.
As pinturas poderão ser acompanhadas a partir do mirante montado pelo Cura, na lateral do Teatro Amazonas, no Largo São Sebastião, que proporciona uma visão privilegiada das duas construções. O projeto tem o apoio do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
O secretário Marcos Apolo Muniz, titular da pasta, ressalta a satisfação de receber essa importante iniciativa, destacando a referência do que o estado vem fazendo em relação às artes visuais e ao diálogo com os trabalhadores da cultura, sobretudo com intervenções urbanas.
“A exemplo de Parintins, com a Galeria Cidade Aberta durante o Festival Folclórico, até a fachada do próprio Bumbódromo, com obras dos artistas Pito Silva e da dupla Curumiz. Em Manaus, com o Festival de Cultura Urbana. São ações que a gente acaba realizando e valorizando esse potencial que envolve essa linguagem artística, bem como as comunidades periféricas”, disse o secretário.
Cultura
Responsável pela empena do prédio Cidade Manaus, o artista visual e curador Denilson Baniwa retorna a Manaus para dar ‘vida’ ao seu trabalho. Nascido no município de Barcelos (distante 399 quilômetros da capital), Denilson conta que recebeu o convite do Cura Amazônia com muita alegria.
“Já havia trabalhado no Cura de Belo Horizonte (MG), mas com uma bandeira. Agora, com a chance de pintar um prédio, é muito legal voltar ao meu estado e fazer uma arte que representa não apenas a minha cultura Baniwa, mas também a cultura amazônida”, revela Denilson.
Ainda de acordo com o artista, a inspiração para a sua obra – que a princípio será batizada de ‘Piracema’ – se deu a partir da conversa com a curadoria do projeto.
“Quando recebi o convite, fomos conversando e informaram que o tema iria girar em torno dos rios, dessa natureza mais fluvial. Então, fiquei pensando em como falar sobre a Amazônia a partir dos rios. E claro, né, vindo de origem indígena, a alimentação básica indígena e amazônica é o peixe, que antes da chegada dos europeus, era a base de alimentação do povo amazônico”, detalha ele.
Retrato de um povo
O edifício Rio Madeira, por sua vez, ganha cor pelas mãos de Olinda Silvano, tecelã, muralista amazônica que é uma importante liderança do povo Shipibo-Konibo, da comunidade de Cantagallo, em Lima, no Peru. Com a obra ‘Cosmo e Energia Amazônica’, a artista retrata a cultura e os costumes de seu povo.
Por meio da arte Kené, uma técnica ancestral caracterizada por suas linhas e padrões geométricos, a muralista representa a cosmologia, a tradição e a estética indígena dos Shipibo-Konibo, interpretados através dos rituais com Ayahuasca e Piri Piri. Seu trabalho como artista contemporânea é uma trajetória de três décadas, reconhecida internacionalmente com exposições e workshops no Peru, Canadá e Espanha, por exemplo.
Segundo ela, a obra de Manaus é a maior que já assinou e, para isso, contou com a colaboração de uma equipe de artistas, entre os quais, o filho Ronin Koshi. Olinda explica que a obra expressa o caminho de seus ancestrais, com os rituais de cura que contribuíram para o crescimento com muita força, energia e conhecimento. “Sou grata pelo Cura, com toda a sua equipe técnica pelo convite de estar aqui. Nesta oportunidade estou realizando o sonho de conhecer Manaus, e é maravilhoso sentir essa energia dos povos indígenas, que nos reconhece em suas origens e não duvidam de quem somos,” conclui a artista.
Cura Amazônia
O Cura Amazônia é uma realização da Agência Urbana de Arte (AGUA), com patrocínio da 3M, apoio da Tintas Coral, Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC), Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), Centro Cultural Casarão de Ideias (CCCI) e Centro de Atenção à Saúde e Segurança no Trabalho (CASST), além da produção local do coletivo Graffiti Queens e incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
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