Mais de 20 municípios do Amazonas têm os bois-bumbás como protagonistas em festejos, aponta pesquisa do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Além de Parintins, com um festival que é conhecido mundialmente, os ritos são encontrado em cidades do Médio Amazonas como Maués, Lábrea e Japurá.
Os folguedos do boi são celebrações que envolvem a combinação entre a festa junina e religião. Entre os elementos que compõem essas celebrações estão orações, dança, cortejo, toadas, instrumentos musicais, artesanato e a utilização da matéria prima amazônica.
A pesquisa do Iphan foi registrada no "Livro de Registro das Celebrações" como Patrimônio Cultural do Brasil em 2018.
Segundo os registros, a chegada do folguedo do boi no Amazonas teria sido por meio das missões jesuítas retomando tradições europeias e agregando influências negra e indígena. Durante o ciclo da borracha, os nordestinos, atraídos pela exploração das seringueiras, também se estabeleceram no estado, imprimindo as raízes culturais do Nordeste brasileiro à brincadeira do boi.
"Temos registros da brincadeira em Manaus, em meados do século 19 e, depois, registros no início do século 20 de muitos bois postos para brincar, inclusive em ciclos juninos, por esses trabalhadores que buscavam conquistar o seu espaço no calendário festivo da cidade", defendeu o antropólogo e presidente da seção Amazonas da Associação Nacional de História (ANPUH), Diego Omar.
Apesar das danças e encenações dramáticas folclóricas carregarem diferentes traços culturais, no caso do Amazonas, a figura do indígena é determinante.
"No ritual do boi de Parintins, a ressurreição do boi é feita pela figura emblemática do pajé na celebração dessa façanha. A brincadeira foi se ‘amazonizando’ e incluindo novos elementos no auto do boi, na festa e no espetáculo, como no caso do Boi de Parintins", explicou o antropólogo.
Além de Parintins, a pesquisa do Iphan alcançou 22 municípios do Médio Amazonas que adotam os bois como protagonistas em festejos. São eles:
- Amaturá;
- Atalaia do Norte;
- Autazes;
- Barreirinha;
- Benjamin Constant;
- Boa Vista do Ramos;
- Borba;
- Coari;
- Fonte Boa;
- Itacoatiara;
- Itapiranga;
- Lábrea;
- Manaus;
- Maués;
- Manicoré;
- Nova Olinda do Norte;
- Silves;
- Urucurituba;
- Careiro Castanho;
- Japurá;
- Pauini;
- Nhamundá.
Rituais de bois-bumbás
Ainda segundo a pesquisa do Iphan, a miscigenação cultural resultou nos diferentes rituais de bois-bumbás que são realizados até hoje como, bois de terreiro, bois de rua e bois de arena.
Alguns realizam a brincadeira no quintal de casa ou da comunidade, outros nas ruas e em arena, com um caráter competitivo, a exemplo do Festival de Parintins, onde os bois Caprichoso e Garantido disputam o título de campeão na arena do Bumbódromo.
No contexto das manifestações culturais, o boi-bumbá se destaca, ainda, com a variação de boi-mirim, o "garrote", em muitos municípios.
Preservação cultural
Para envolver as futuras gerações e preservar a brincadeira do boi, o Iphan em parceria com os representantes de bois do Médio Amazonas e Parintins, elaborou o Plano de Salvaguarda para resguardar o patrimônio cultural em todo estado.
“Assegurar o conhecimento, a história, os modos de fazer e os valores da tradição, por meio das crianças, é uma forma de manter vivo esse patrimônio cultural”, disse a superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiro.
Entre as diretrizes do plano estão a inserção dos bois-bumbás no currículo escolar, por meio das mais diversas estratégias como, cursos de formação musical, cultura popular e nas atividades escolares, contemplando as manifestações do Complexo do Boi Bumbá na sua diversidade e de forma transversal.
Também estão previstas a promoção e ampliação da valorização de compositores veteranos dos bois e dos mestres de cultura do boi-bumbá, assim como a criação de cursos de formação associadas aos fazeres, saberes e tradições do boi bumbá, entre outras ações.
Fonte: com informações do G1 AM
