Candidatos à prefeitura de Manaus são alvos de denúncia de 'caixa dois', afirma site

De acordo com informações do site Portal do Holanda, o candidato a prefeito de Manaus, Capitão Alberto Neto (PL), e a vice Maria do Carmo Seffair (Partido Novo), são alvos de uma denúncia robusta apresentada à Justiça com documentos que comprovam a existência de “caixa dois”, abuso de poder econômico e uso das empresas de Seffair para o cometimento de crimes eleitorais no pleito deste ano. Gravações, extratos bancários e conversas por aplicativo revelam como o esquema funciona, envolvendo inclusive, uma ex-secretária municipal de comunicação.


No fim de março deste ano, o professor Ronaldo Fernandes, autor da denúncia, diz ter tido uma reunião com Maria do Carmo Seffair. Na ocasião Maria ensaiava sua pré-candidatura a prefeita de Manaus pelo Partido Novo. Conforme Fernandes, o encontro seria um convite para assumir a coordenação geral da campanha, o que disse em ato declaratório ter se negado, uma vez que almejava disputar uma vaga para vereador. Sob a condição de ter sua candidatura bancada por Seffair, o professor teria aceitado coordenar a pré-campanha. Inicialmente o custo da empreitada foi orçada em R$ 1,4 milhão, divididos entre pré-campanha, campanha e “reta final”, o que acabou não sendo aceito e “reduzido” para R$ 600 mil reais que seriam pagos de abril a outubro deste ano via pix e em espécie.


Próximo das convenções partidárias, Maria do Carmo aceita ser vice de Alberto Neto e juntos formam a Coligação Ordem e Progresso, sob as bênçãos de Bolsonaro. Nos documentos apresentados como prova, há diversos extratos que comprovam as transferências destinadas a Ronaldo no período, que mobilizava em favor do grupo 24equipes de cabos eleitorais, totalizando 220 pessoas.

“Caixa


“Caixa 2” via Pix


Por meio de extratos bancários e conversas de aplicativo que tivemos acesso, fica comprovado que Ronaldo passou a ser abastecido financeiramente pela própria Maria do Carmo. “Ronaldo, estou tentando arrumar 50.000. Mas não tenho esse valor. Posso fazer Pix”, escreve a candidata a vice um dia antes da votação de primeiro turno. “Vou mandar levar 20.000. Meu limite de Pix é de 2.000 à noite. Amanhã eu passo cedo mais20.000”, escreve ela ao apoiador. No dia seguinte, às 8h23, dia da eleição, a candidata usa seu poder como reitora e envia da conta Bradesco do Centro de Estudos Jurídicos do de “caixa 2” da campanha de Alberto Neto. Um deles é uma conta de pessoa física, em seu próprio nome, no Banco Itaú. A outra conta é pessoa jurídica, com nome fantasia “O Assessor”. Em conversa por aplicativo, o nome da conta causa estranhamento em Maria do Carmo.


Ronaldo o teu pix? A Kellen me passou um, mas aparece assessor. É isso mesmo?” questiona ela no dia 25 de maio. Fernandes responde que sim (ver ao final da matéria).A pessoa citada na mensagem se trata de Kellen Cristina Veras Lopes, ex-secretária de comunicação da prefeitura de Manaus durante a gestão de Arthur Virgílio e que, atualmente é braço direito da candidata em seus empreendimentos, além de presidente municipal do partido Novo.


É Kellen quem vai enviar o primeiro pix para Ronaldo por meio da conta “O Assessor” no dia 20/05. Ela transfere de uma empresa que está em seu nome, a KFL Consultoria, no valor de R$ 5 mil. No dia 27/05, logo após questionar se a conta era aquela mesmo, a própria Maria do Carmo transfere mais R$ 25 mil. E nos meses seguintes usando tanto sua conta pessoal, quanto a do Centro de Estudos Jurídicos do Amazonas (Faculdade Santa Teresa), a vice de Alberto Neto alimentou de forma ilegal sua campanha. Em junho foram R$ 35 mil, julho R$ 75 mil, agosto R$ 85 mil (mais R$ 9,8 mil enviados por Kellen) e no dia da eleição mais R$ 22 mil reais, apenas em pix.


Gravação: “Caixa 2” em espécie


Os recursos repassados para Fernandes no entanto não pareceram suficientes e parte dos ativistas que não foram pagos decidiram cobrar esta dívida com a própria Maria do Carmo. E decidiram gravar a “reunião”.


Na gravação obtida pela reportagem, antes de acessar a reitora, o grupo teve de passar primeiro por Kellen Lopes, presidente do Partido Novo em Manaus, que deu detalhes sobre como abasteceu Ronaldo com recursos não declarados para a Justiça Eleitoral.


“A doutora (Maria do Carmo) investiu mais de R$ 500 mil reais no Ronaldo... A gente passou dinheiro pra ele. R$ 200 mil reais. Se ele não pagou vocês…” buscava justificar ao grupo, que perguntava quando foi este repasse. “Na semana passada a gente deu dinheiro pro Ronaldo e sexta-feira foi passado o valor que estava faltando pra ele. Ele recebeu R$ 44 mil reais. Ele recebeu na semana passada. Antes da eleição” explicou Kellen completando: “Ele não tem como dizer que não recebeu porque dois pagamentos foram feitos pra ele. E um eu entreguei pra ele. Eu quero ver se ele é homem de dizer que eu não entreguei. Eu entreguei R$ 100 mil reais na mão dele”, revelou.


Na gravação também fica claro que não só recursos financeiros do grupo empresarial de Seffair é usado para beneficiar sua campanha como também a estrutura também serve de base para as operações. “Você sabe que você teve várias vezes lá dentro da Fametro comigo, a gente está passando recurso pro Ronaldo desde abril. Eu tô mentindo?!”,questiona Kellen a uma das ativistas prejudicadas.


Quase um milhão para uma pessoa


No dia seguinte o grupo volta a se reunir, desta vez no comitê central do Capitão Alberto Neto. Duas horas se passaram, quando por volta das 18h enfim foram recebidos. Na sala de reunião estavam dois seguranças particulares acompanhando Kellen. Foram orientados a desligar os celulares antes da entrada de Maria do Carmo. Um deles porém ativou o gravador de voz.


Mesmo distante, o gravador conseguiu captar toda a conversa. “Eu já dei pra ele mais de quinhentos, hoje, cento e quarenta que tô botando na mesa com mais quarenta que eu dei no dia da eleição, são mais duzentos, tu sabe que isso é quase um milhão de reais, pra uma pessoa. Tu sabe quanto a gente fez isso aqui, quantos líderes a gente pagou aqui, quantos?” questiona Maria do Carmo a sua assessora Kellen, que responde “Mil, mil, mil e poucas lideranças”.


Reclamando do quanto teria gasto com seu coordenador e seu resultado em votos, do Carmo em tom de deboche chegou a afirmar que “o voto dele é mais caro do que o do Roberto Cidade”, mas que se comprometia em resolver pelo manos parte da pendência. “Então a gente vai pegar os cento e quarenta aqui e vai ver o que vai fazer. Vocês vão decidir aqui e aí o resto a gente pode fazer isso que a Kellen tá propondo. Decidam da melhor forma, eu não tenho um saco sem fundo. Eu não tenho como arrumar. Não tenho como. Quase um milhão de reais… é muita grana”, completa.


Será a prefeita em dois anos


Já próximo do fim da conversa, uma das ativistas sugere um acordo que consiste em espaço na Prefeitura caso sejam eleitos. A conversa transcorre com afirmações de que vão vencer, até que uma delas sugere que os planos da vice seriam outros. “Até porque a senhora não tem intenção de ficar como vice-prefeita, pois seu projeto é maior”, afirma uma ativista que prontamente ouve de Maria do Carmo: “Meu projeto é pra dois anos virar a prefeita”.


Outro lado


Procurada pelo Portal do Holanda, a candidata Maria do Carmo Seffair, vice-prefeita na chapa de Alberto Neto (PL), qualificou como mentiras as acusações e possíveis provas de um mundo “sujo”, Maria do Carmo assegura não haver a menor possibilidade dessas denúncias prosperarem. “Não sou suja”, afirmou.

Fonte: com informações do Portal do Holanda